domingo, 14 de fevereiro de 2016

Praça Nereu Ramos

Foto: turismo.sc.gov.br


Estava perambulando sem pressa,
Nas curvas da Praça Nereu Ramos.
À procura de uma inspiração ou uma promessa,
Na busca de descanso.

Não estou interessada no seu partido político,
Mesmo sabendo que estamos em época de eleição.
Não quero ver os quadros de caricaturas hoje,
Mesmo sabendo que o desenhista vai me receber com educação.

Não me permita sentir piedade,
De quem vende coisas sentado no chão;
Contemplo o acomodar dos idosos
Que cegos, começam a entoar uma canção.

Um mendigo, um trabalhador e um poderoso chefão.
Dividindo a mesma estrada, o mesmo “centrão”.
A mesma árvore estendida.
Mesmo horário, o mesmo petit pavê, olhando para a mesma direção.

Cruzamos pelos mesmos homens do carvão,
Monumento histórico criado com boa intenção.
Os cultos, as danças e as canções,
Embalam a torcida do tigrão.

A cidade inteira cruza pelas curvas da praça.
Entre Bancos, árvores e ciganas.
Ora para ficar, ora para partir.
Praça que abriga choro e riso, abraça um povo a aplaudir.




*Texto temático sobre a Praça Nereu Ramos localizada no município e Criciúma-SC.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Olhos de Cigana



Não é a primeira vez que nossos olhos se cruzam,
Aquele olhar faminto e ousado.
De quem fala com o olhar,
De quem intimida.

Não que aqueles olhos verdes despertem meus temores,
Mas sua mão alcançou a minha na praça, a algum tempo atrás.
Quando recuei, lançou-me um olhar lascivo, afrontador,
Inesquecível.

Hoje o restaurante está cheio,
Coberto pelos burburinhos dos seus clientes.
O único lugar vago era próximo ao dela,
Da cigana dos olhos verdes e sua criança.

Um único prato
Para duas bocas,
Duas bocas que falam o que não posso identificar,
Um único garfo, e uma criança a cantar.

Me perdi naquela cena,
Encaro meu almoço.
E mesmo assim seus olhos se voltaram para mim,
E um certo mistério pairou pelo ar.

Não sei de onde veio,
Para onde está indo
E se sua criança deveras matou a fome.
Me perco neste devaneio, no olhar que consome.

Seu olhar familiar me intriga
Seu mistério revela talvez que nos conhecemos.
Mas de onde?
Aqueles segundos que param tudo por um instante,
No instante em que nossos olhos se cruzam.

Quem pode enfrentar os olhos verdes da cigana?
Quem revelará seus mistérios?
Quem sou eu para questioná-los?
Deveras sente o mesmo que eu sinto quando nos entreolhamos.

Imagino por instantes ser minha cisma,
Porque se destaca na multidão.
Penso também em quantas veze
Alguém também intimidou-se com ela.

Nunca mais a vi,
Nem seu rastro, nem sua criança.
Talvez esteja no meio de alguma dança,
Ou alguém lhe convenceu a partir.