terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Olhos de Cigana



Não é a primeira vez que nossos olhos se cruzam,
Aquele olhar faminto e ousado.
De quem fala com o olhar,
De quem intimida.

Não que aqueles olhos verdes despertem meus temores,
Mas sua mão alcançou a minha na praça, a algum tempo atrás.
Quando recuei, lançou-me um olhar lascivo, afrontador,
Inesquecível.

Hoje o restaurante está cheio,
Coberto pelos burburinhos dos seus clientes.
O único lugar vago era próximo ao dela,
Da cigana dos olhos verdes e sua criança.

Um único prato
Para duas bocas,
Duas bocas que falam o que não posso identificar,
Um único garfo, e uma criança a cantar.

Me perdi naquela cena,
Encaro meu almoço.
E mesmo assim seus olhos se voltaram para mim,
E um certo mistério pairou pelo ar.

Não sei de onde veio,
Para onde está indo
E se sua criança deveras matou a fome.
Me perco neste devaneio, no olhar que consome.

Seu olhar familiar me intriga
Seu mistério revela talvez que nos conhecemos.
Mas de onde?
Aqueles segundos que param tudo por um instante,
No instante em que nossos olhos se cruzam.

Quem pode enfrentar os olhos verdes da cigana?
Quem revelará seus mistérios?
Quem sou eu para questioná-los?
Deveras sente o mesmo que eu sinto quando nos entreolhamos.

Imagino por instantes ser minha cisma,
Porque se destaca na multidão.
Penso também em quantas veze
Alguém também intimidou-se com ela.

Nunca mais a vi,
Nem seu rastro, nem sua criança.
Talvez esteja no meio de alguma dança,
Ou alguém lhe convenceu a partir.

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